terça-feira, 14 de julho de 2015

Família e Empresa - duplo desafio




Família e empresa – duplo desafio


Vera Maria Carvalho

Psicóloga, Coordenadora de projetos e de desenvolvimento de pessoas da Nova Forma – Assessoria e Desenvolvimento.....vide currículo no final do texto.

Entendendo família como um todo organizado em níveis hierárquicos formados por partes interdependentes, que influenciam e são influenciadas, podemos também pensar sobre o que ocorre na relação do sistema familiar em uma empresa pertencente a uma mesma família.  Será que os filhos desejarão continuar com o negócio que o avô criou e que a atual geração – os netos - demonstra não mais querer mantê-lo?
As diferentes configurações familiares na atualidade demandam variadas tarefas aos subsistemas que formam o sistema familiar e este aos seus membros. A abrangência dos subsistemas é grande e vai do estabelecimento de vínculos até a sua manutenção para funcionamento saudável da família. Embora haja diferentes configurações familiares, nos deparamos sempre com o modelo tradicional que consta de subsistema individual, subsistema conjugal, subsistema parental, subsistema filial e subsistema fraternal, acompanhados de funções específicas e dependendo de que contexto e cultura estejam inseridos.
Na formação das empresas familiares a configuração do sistema se depara com três subsistemas específicos: família, patrimônio e empresa (Passos, Bernhoeft e Teixeira – Família, Família, Negócios à parte – Editora Gente, pág. 49 - 2006:)
Compreender o funcionamento desta arquitetura e sua dinâmica é fundamental para que a família, também empresária, tenha condições de administrar o negócio e as relações pessoais familiares. Nem sempre os membros da família participam diretamente das atividades da vida empresarial. Há famílias com membros que chegam a ignorar o trabalho que é empreendido na empresa de onde sai, por exemplo, o dinheiro para o pagamento de suas despesas com escola, carros, viagens.
O conceito de empresa familiar é aquela em que o controle é exercido por uma ou mais famílias, ou seja, os principais sócios da organização são os fundadores ou os seus descendentes. Portanto, um sistema que tem como característica o controle societário implica, também, em relações de negociação sobre interesses pessoais dos membros daquela família.
Nem sempre o que o pai quer, ou a mãe sonha é compartilhado ou aceito pelo filho mais velho, a filha que deseja ser independente ou o caçula que quer ser, por exemplo, peão em rodeios de touros. Algumas vezes as relações de negociação se complicam mais quando entra em cena o genro ganancioso, a nora que quer mudança de “status” social, ou o filho que deseja, a todo custo, tirar o pai da administração do negócio da família, para imprimir a ele o seu estilo, com acertos e possíveis erros, o que ninguém aceitaria sem antes ensejar discussões, brigas e desentendimento entre os sócios, membros da família.
A existência simultânea e a interação dos três subsistemas da empresa familiar fazem com que a dinâmica das sociedades familiares enfrente questões de ordem emocional, legal, patrimonial e empresarial, influenciando também a dinâmica da família. Cada um dos subsistemas – família, patrimônio e empresa - atua nos membros da família de forma distinta, dependendo do seu grau de envolvimento nas atividades da empresa e/ou no seu papel funcional na família.
O grande desafio dos membros da empresa familiar que atuam direta ou indiretamente na sua administração reside na delimitação das fronteiras entre o papel familiar e o papel profissional. Um duplo desafio: o de manter a empresa e seu negócio e o de manter as relações familiares sem conflitos.
Muitas vezes estes conflitos aparecem quando não há a delimitação do que é profissional e do que é familiar. Quando o pai-empresário age como administrador os membros da família podem questionar que a decisão tinha que ser apenas como pai. Noutras decisões, quando o empresário-pai age como pai, o filho pode se sentir desqualificado enquanto profissional e integrante da administração da empresa. Nas duas possibilidades, sempre haverá interferência do que é familiar com o que é apenas empresarial, profissional por excelência.
Quando há um conflito entre estes aspectos, o pai pode agir como empresário e magoar o filho que se mostra apenas filho, ou quando o filho é tratado como se fosse apenas filho, sendo desqualificado como profissional que também é. Isto pode acontecer, também, nas relações conjugais. O marido quer a empresa numa direção e a mulher, noutra. Em casa, há uma ampliação do impasse e as relações marido-mulher se estremecem. No final da história, empresa mal administrada e casal insatisfeito.
Facilmente as queixas se repetem em diferentes empresas familiares e nas famílias com relação ao espaço de autonomia, o reconhecimento das competências profissionais dos seus membros, os estilos e modelo de gestão adotado e os sentimentos que se misturam às decisões empresariais interferindo nas relações pessoais, tornando frágeis os vínculos e levando as pessoas a conflitos maiores, chegando até, ao rompimento ou afastamento da empresa e o estabelecimento de mágoas familiares de difícil reparação.

O duplo desafio que as empresas familiares enfrentam - ser competente e rentável no mundo dos negócios e proporcionar bem-estar e felicidade para todos os membros da família – necessita de ações conjuntas que promovam a valorização coletiva dos membros que participam daquele sistema a partir de recursos da própria família e seu funcionamento ou de recursos externos que os auxiliem a compreender a dinâmica familiar na administração da empresa, neste caso, com a contratação de profissionais especializados em consultoria e assessorias específicas que tenham visão sistêmica sobre o funcionamento geral da empresa e as diferentes áreas que a compõem. Nem sempre o esforço interno é eficaz na resolução dos conflitos, e por uma atitude tardia, em busca de ajuda, a empresa poderá ter prejuízos financeiros e patrimoniais assim como a família pode estabelecer um sofrimento permanente.

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